quarta-feira, 31 de agosto de 2022

MÓDULO IV - O Estilo - A Linguagem

 A Arte de Ler e 

Escrever:


MÓDULO IV - O Estilo – A Linguagem

Isolar palavras ou grupos de palavras, repetir palavras ou grupos de palavras e distribuir esses elementos no espaço reforçam a mensagem do poema.
Uma característica do cordel é o emprego de palavras e expressões da linguagem popular falada – com seleção de palavras simples que são compreendidas pelo público a que se destina o poema. Ao ler os folhetos, encontramos a linguagem popular que se aproxima dos usos locais da oralidade, facilitando assim a própria memorização para quem recita e para quem ouve as narrativas.
Outra característica é o uso de recursos textuais como o exagero, os mitos, as lendas, e atualmente o uso de ironia ou sarcasmo para fazer críticas sociais ou políticas. Usar uma imagem estereotipada como personagem também é muito comum, há também cordéis que falam de amor, relacionamentos pessoais, profissionais, cotidiano, personalidades públicas, empresas, cidades, regiões, etc. Na maioria das vezes usam várias técnicas de persuasão e convencimento para que o leitor acate a ideia proposta. O tom poderá ser humorístico, de crítica social, elogioso, de informação, de formação moral etc.

BRASIL: A Cultura de um Povo - OS Traços Linguísticos
  
 Ai! Se sêsse!…
Autor: Zé da Luz

Se um dia nós se gostasse; 
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!    

                      FIM
A repetição de consoantes ao longo do poema é conhecida como aliteração é uma figura de harmonia da linguagem. 

O poeta Severino de Andrade Silva, mais conhecido como Zé da Luz, poeta, nasceu em 29 de março de 1904 em Itabaiana, região agreste da Paraíba, e faleceu em 123 de fevereiro de 1965 no Rio de Janeiro.

Vamos realizar um jogral!
Ai! Se sêsse!…



Turmas A B C D

SÃO PAULO. Cadernos de apoio e aprendizagem: Língua Portuguesa/ Programas: Ler e escrever e Orientações curriculares. Livro do Professor. Sétimo ano, São Paulo: Fundação Padre Anchieta, 2010.


É fundamental reconhecermos as variedades linguísticas de nosso país e o jogo de sonoridade que esses versos revelam ao ouvinte/leitor. Portanto, você sabe o que são traços linguísticos e/ou linguagem popular?
1. Por que motivo o autor optou por usar a linguagem dessa forma? Se a escrita tivesse sido feita a partir da norma padrão, o efeito de sentido do texto seria o mesmo? Por quê?
2. Nesse poema Ai! Se sêsse!…, há quantos versos? E possível perceber alguma semelhança sonora? O que o poeta provoca com tal uso da língua?
3. Alguns versos desse poema são acompanhados de ponto de exclamação (!), ponto de interrogação (?) e reticências (...). O que esses sinais de pontuação representam?
As escolhas linguísticas do poeta Zé da Luz mostram traços linguísticos característicos do português popular falado por vários brasileiros. O cordel transpõe a fala do nordestino para o registro escrito.  Aponte três aspectos que chamaram sua atenção.
4. Que ação desencadeia um conflito no poema narrativo? Como o eu lírico informa que resolveria tal questão?

Destaque linguístico: Vamos cantar!        ABC do Sertão         -          Luíz Gonzaga

Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender um outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
Lá no meu sertão pros caboclo lê
Têm que aprender outro ABC
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre
Tem nome de rê
Até o ypsilon lá é pissilone
O eme é mê, O ene é nê
O efe é fê, o gê chama-se guê
Na escola é engraçado ouvir-se tanto "ê"
A, bê, cê, dê,
Fê, guê, lê, mê,
Nê, pê, quê, rê,
Tê, vê e zê
Atenção que eu vou ensinar o ABC
A, bê, cê, dê, e
Fê, guê, agâ, i, ji,
ka, lê, mê, nê, o,
pê, quê, rê, ci
Tê, u, vê, xis, pissilone e Zé
Luiz Gonzaga/ Letras.mus.br. Disponível  em www.letras.mus.br/luiz-gonzaga
Na linguagem da Literatura de Cordel é preciso respeitar o regionalismo e ter uma voz discursiva sobre os temas centrais do poema: política, economia, educação, religião, canções populares e provérbios. Os versos dialogam com o leitor é o poema de cordel conversando com o ouvinte. A dramatização é o indicador do repertório magnífico dessa arte popular e tão conhecida no nordeste brasileiro.
Desse modo, os traços característicos presentes nas estrofes da música de Luiz Gonzaga demonstram alguns aspectos do regionalismo que você estudou e identificou nos poemas de Cordel. A partir da experiência pessoal, na certa você vai poder “curtir” com outro sabor as poesias de cordel e tenha a certeza que estará muito mais próximo da cultura de seu país.

Finalizando...Vamos investigar a Literatura de Cordel

Procure poesias relacionadas à Literatura de Cordel e com a orientação do professor vocês farão um varal com poemas de cordel e, em seguida, com seus cordéis façam a dramatização poética para a turma! Partindo dessa pesquisa...responda
a)    Como os cordéis são divulgados?
b)    Por que esses textos levam o nome de Literatura de Cordel?
c)    Pense na linguagem do cordel: Qual a sua característica marcante?

Cordel de recepção  - Maria Alice Armelin
Amigos aqui presentes
Neste dia de alegria
Queiram sentar, tomem tento
Vai começar a folia
Sintam-se em pleno Nordeste
Sob a luz do meio-dia
Lendo e ouvindo cordel
Que é arte, graça e magia!
O que me aguarda hoje?
Faça sua conjectura
Um causo, lenda, verdade,
Verso de amor ou gastura,
Romance, ódio, paixão,
Vingança, amor, formosura,
Tudo cabe no cordel
E na roda de leitura.
SÃO PAULO. Cadernos de apoio e aprendizagem: Língua Portuguesa/ Programas: Ler e escrever e Orientações curriculares. Livro do Professor. Sétimo ano, São Paulo: Fundação Padre Anchieta, 2010.

Planejando seus passos, elaborem um poema de cordel com a turma: com título, presença de crítica social e seguindo esses passos...
I – Uma sentença inicial.
II – Indícios de desequilíbrio da situação inicial.
III – A constatação desse desequilíbrio.
IV- A tentativa de recuperar o equilíbrio do início.
V- A volta do equilíbrio inicial.

Para isso, no cordel:
1. Quem contará a história? Qual será o tema do cordel? Se for o universo sertanejo, houve preocupação em utilizar a variedade linguística de pessoas da região nordestina sem muito grau de escolaridade? Se for um tema da atualidade ou uma obra, foi explorado em várias de suas facetas?
2. E o eu lírico será do poeta ou do herói? Se for o herói como será? Haverá outras personagens e o papel delas no poema? Em que momento, aparecerão?
3. Produzirão um folheto com quantas estrofes? Na forma de ABC, planejem a estrutura composicional de seu cordel.
4. O tom, vocês darão a seu cordel: humorístico, de crítica social, elogioso, de informação, de formação moral etc. O que vocês precisarão fazer para que esse tom seja identificado pelo leitor nos versos? Há coerência no estilo de linguagem adotado (irônico, elogioso, sério, denunciador...)?

5. Os fatos foram expostos de modo a se reconstruir o fio narrativo da história? A métrica e as rimas estão adequadas para uma declamação do cordel? O texto está escrito de forma que possa ser bem memorizado pelo declamador?
6. Organizem na capa do folheto o título, o nome dos autores e a ilustração. Para confeccionar o folheto, dobrem ao meio folhas de papel sulfite. Lembrem-se de que as páginas devem compor um bloco, que pode ser grampeado para facilitar a leitura. Em cada página, escrevam uma ou duas estrofes para que o cordel fique bem organizado.



SÃO PAULO. Cadernos de apoio e aprendizagem: Língua Portuguesa/ Programas: Ler e escrever e Orientações curriculares. Livro do Professor. Sétimo ano, São Paulo: Fundação Padre Anchieta, 2010.

MÓDULO III - Estrutura Composicional

 A Arte de Ler e 

Escrever:


MÓDULO III - Estrutura Composicional


Analisando a estrutura poética da Literatura de Cordel
A Escansão Poética nas Sextilhas
Quanto à forma, apresenta características do gênero poético, com rima, métrica e disposição das informações em verso. No Brasil, a produção poética mais utilizada é a redondilha maior, ou seja, o verso de sete sílabas poéticas (versos setissílabos). A estrofe mais comum é a de seis versos, chamada sextilha. E o esquema de rimas mais comum é ABCBDB. O cordelista produz uma poesia para ser recitada em voz alta. Por essa razão, o texto é escrito em versos, com estrofes, métrica e rimas constantes, com o objetivo de torná-lo fácil de memorizar. Apresenta uma situação de equilíbrio, desenvolve um conflito e termina restaurando o equilíbrio, ou seja, uma estrutura de narração cíclica. Uso de acrósticos, o diálogo com o leitor e/ou ouvinte no início ou no final da narrativa. Há estruturas composicionais diversas: peleja, ABC (trecho do cordel: ABC da saudade-  Luiz da Costa Pinheiro). Disponível em: http://www.ablc.com.br/, acesso em 10 de out. 2012.

LUIZ GONZAGA - BIOGRAFIA EM CORDEL- Altair Leal


Com tijolos ou paus se faz uma casa. Na construção do poema, muitas vezes com versos repetidos ou semelhantes, falam as palavras.


Peço licença aos poetas
Pra falar de um nordestino
O grande Luiz Gonzaga
Que cantar foi seu destino
Fez de sua “Asa Branca”
Para o nosso povo, um hino.
Todo nordestino sente
Orgulho deste senhor
Traduziu como ninguém
Do nordeste seu valor
Com a sanfona e seu gibão
Foi o nosso cantador
Nascido no ano doze
Treze de dezembro o dia
Na Serra do Araripe
Teve festa e alegria
Na Fazenda Caiçara
Seu Januário sorria.

1. Você observou que há rimas. Represente-os no caderno, deste modo:
a) No lugar de cada verso com rimas, desenhe o sinal O.
b) No lugar dos demais versos, desenhe o sinal ____.
Registre cada sinal em uma linha; Pule uma linha na mudança das estrofes
Confira com o seu colega ao lado.
c) Agora, escreva em seu caderno, em numeral ordinal, quais são os versos com rimas em cada poema.
d) Por que você acha que os poetas usaram essas rimas? O que acham os colegas?

O Jeca Tatu de Monteiro Lobato --- Medeiros Braga
Eu vou recontar em versos
O que Lobato contou
No seu livro “URUPÊS”
No qual se imortalizou
Ao externar seu talento
No Jeca que projetou.
Essa obra foi escrita
No início do século vinte,
Há mais de noventa anos
E, assim, por conseguinte,
Só se escrevia ao agrado
Das elites de requinte.
Abriu Monteiro Lobato
Na nossa literatura
A trilha e a caminhada
Para uma nova cultura
Onde o homem fosse alvo
Da melhor propositura.

Para transformar a história do personagem de Monteiro Lobaro, Jeca Tatu, em cordel, o poeta cordelista trabalhou com a organização do texto em versos e com as rimas constantes para dar um ritmo especial à história. Sublinhe as rimas das três estrofes e anote o que você observou sobre elas. Há musicalidade?

VAGALUME (CORDEL INFANTIL)

Maria Hilda de Jesus Alão - retirado http://www.recantodasletras.com.br/, 10/10/12

Vagalume acende a luz            
Parece estrela a voar
Criança corre atrás dela
Com vontade de pegar.


Voa, voa vagalume
Com a luzinha a brilhar
Ilumina essa menina
Que não cansa de sonhar.

Se eu pudesse mudar
Queria ser vagalume
Para o mundo iluminar
Com o clarão do meu lume,
Voa, voa vagalume!

Cada um desses poemas possui uma força diferente de expressão. Para conseguirem isso, os poetas utilizaram alguns recursos de linguagem: a rima e a beleza das frases poéticas. A forma em verso, em geral, facilita a memorização das formas literárias de tradição oral. Ligada à situação sociocomunicativa, constitui uma marca histórica desse gênero.
A)   O que o poeta se dispõe a fazer no texto do cordel?
B)   Qual o esquema de rimas?
1. Você vai trabalhar agora com quatro palavras de quatro letras retirados do poema.
a) Escreva cada palavra na forma vertical como um acróstico, use rimas. Observe que um poema não se faz simplesmente juntando estrofes soltas. Ele precisa ter uma coerência.

Setilhas: Pela beleza rítmica que essas estrofes oferecem ao declamador, os grandes poetas não conseguiram fugir à tentação de produzi-las.

Chegada De Lampião No Inferno -  José Pacheco da Rocha
Vamos tratar da chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu.
- Quem é você, Cavalheiro -
- Moleque, sou cangaceiro -
Lampião lhe respondeu.
- Não senhor - Satanás, disse
vá dizer que vá embora
só me chega gente ruim
eu ando muito caipora
e já estou com vontade
de mandar mais da metade
dos que tem aqui pra fora.
Moleque não, sou vigia
e não sou o seu parceiro
e você aqui não entra
sem dizer quem é primeiro
- Moleque, abra o portão
saiba que sou Lampião
assombro do mundo inteiro.

Esse cordel apresenta algumas características peculiares ao gênero.
  1. De quantos versos se compõe cada estrofe? Quantas sílabas há em cada verso? Qual é o esquema de rimas nas setilhas?
  2. Escreva, com suas palavras, o tema de que trata o poema.
  3. Como o poeta chama a atenção do leitor no texto do cordel?
Conclusão: Percebeu que nas sextilhas o esquema de rimas é_______________ e nas setilhas o esquema de rimas_________________.

Diga Deus Onipotente
Se é você, realmente
Que autoriza, que consente
No meu sertão tanta dor
Se o povo imerso no lodo
apregoa com denodo
que seu coração é todo
De luz, de paz e de amor.
Oito pés de quadrão ou Oitavas: Os oito pés de quadrão, ou simplesmente oitavas, são estrofes de oito versos de sete sílabas. Na estrofe popular aparecem os primeiros três versos rimados entre si; também o quinto, o sexto e o sétimo, e finalmente o quarto com o último, não havendo, portanto um único verso órfão.
  1. Faça o esquema de rimas no próprio poema de cordel. E, recite o poema.
  2. Também no próximo, as décimas.
Eram doze cavalheiros
Homens muito valorosos
Destemidos, corajosos
Entre todos os Guerreiros
Como bem fosse Oliveiros
um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos os infiéis
Eram uns leões cruéis
Os doze pares de França.
Décimas - As décimas, dez versos de sete sílabas, são as mais usadas pelos poetas de bancada e pelos repentistas. Esta modalidade só perde para as sextilhas, especialmente escolhidas para narrativas de longo fôlego. Ainda assim, entre muitos exemplos, as décimas foram escolhidas por Leandro Gomes de Barros para compor o longo poema épico de cavalaria A Batalha De Oliveiros Com Ferrabraz, baseado na obra do imperador francês Carlos Magno. http://www.ablc.com.br/



A XILOGRAVURA
Os textos são publicados em livretos fabricados praticamente de forma manual pelo próprio autor. Eles têm geralmente 8 páginas mas podem ter mais, variando entre 16, 32 e 64. As páginas medem 11x16cm e são comercializadas pelos próprios autores. As imagens de capa dos livretos, geralmente xilogravuras artesanais, costumam ser uma marca característica do cordel, pois apontam claramente para a temática. Os livretos de cordel utilizam material barato, seu papel é de jornal e as capas são desenhadas com matrizes xilográficas. A xilogravura, geralmente, é feita das cascas de cajá ou Umburana. Vídeo a produção de Xilogravuras.Disp.http://youtu.be/lXkKOI3z0V8, ac.11/10/12. 

Foi possível perceber a diversidade temática dos folhetos? Quais chamaram mais sua atenção? Por quê?



outu.be/lXkKOI3z0V8>. Acesso em 11 out. 2012

MÓDULO II - Conteúdo Temático do Gênero Cordel

A Arte de Ler e 

Escrever:

 MÓDULO II - Conteúdo Temático do Gênero Cordel


Os temas são variados, desde narrativas tradicionais transmitidas pelo povo oralmente: aventuras, histórias de amor, humor, crítica social, universo sertanejo até ficção – causos maravilhosos, pessoas famosas, e o folheto de caráter jornalístico, modificando-o para torná-lo divertido. É um gênero intermediário entre a oralidade e a escrita, faz uma espécie de ponte entre a cultura popular e a literatura. Portanto, dialoga (presença de intertextualidade) com temas e discursos presentes em outras obras da literatura universal. Remete a passagens bíblicas, lutas e conflitos entre o bem e o mal, em que o bem sempre vence.

  1. Como outras artes influenciam o cordel?
  2. Como o cordel influencia as outras artes?
  3. Quais são os temas abordados nos poemas. Identifique-os de acordo com os títulos dos poemas?
  4. Qual cordel chamou mais a sua atenção? Por quê?
  5. Quais elementos mais comuns estão presentes nos cordéis?
  6. Nos poemas narrativos uma ação desencadeia conflitos, identifique-os?
  1. O Jeca Tatu de Monteiro Lobato --- Medeiros Braga
Eu vou recontar em versos
O que Lobato contou
No seu livro “URUPÊS”
No qual se imortalizou
Ao externar seu talento
No Jeca que projetou.

Essa obra foi escrita
No início do século vinte,
Há mais de noventa anos
E, assim, por conseguinte,
Só se escrevia ao agrado
Das elites de requinte.

Abriu Monteiro Lobato
Na nossa literatura
A trilha e a caminhada
Para uma nova cultura
Onde o homem fosse alvo
Da melhor propositura.[...]

Quando a princesa Izabel
A abolição assinala
Sonorizando os tambores
Pelo quilombo e senzala,
Jeca Tatu só “magina”,
Coça a cabeça e não fala; [...]

A casa é toda de taipa,
Feita de vara e estaca
A pique e barro pastoso
Nessa armação se ensaca
Tornando a parede sólida,
Nem tão forte, nem tão fraca.[...]

Se nada disso resolve
Dentro do tempo esperado
Se busca o São Benedito,
O seu poder defumado,
As águas bentas e o rabo
De tatu tão consagrado. [...]

Com a roupa do casamento
E os sapatos já sem cor
Sai mancando pra pegar,
Com o mais ingênuo fervor
Junto a seu chefe político,
Seu diploma de eleitor.

Votando, não sabe em quem,
Encerra a destinação,
Devolve o diploma ao chefe,
Recebe um aperto de mão
E a lembrança da promessa
Pra bem depois da eleição.

Porém, todo sentimento
De pátria é desconhecido,
Nação, povo solidário,
Pra Jeca não faz sentido...
E se atacado o país
Não toma nenhum partido.[...]

É esse o Jeca Tatu
Que de face enternecida
Não canta, não ri, não ama,
Não fala de voz erguida,
Nem consegue viver bem
No meio de tanta vida.

Mas, pra Monteiro Lobato,
Jeca Tatu foi, então,
O resultado grotesco
Do modelo de gestão
Que se implantou no país
Mas, jamais, por opção.[...]

Então o grande escritor
Compenetrado, por fim,
Ao analisar os dois lados
Do Jeca, o bom e o ruim,
Concluiu que o caboclo
“Não é assim, está assim.”

Sem ter receios de errar
Sob este teto de anil,
Digo com convicção
Que, retratado o perfil,
O infeliz Jeca Tatu
Tem a cara do Brasil.

Brasil que grassa apático
Pelo seu braço cruzado,
Brasil caboclo onde sofre
Um povo hospitalizado,
Brasil análfa que vota
Subserviente e errado.

Esse imenso contingente
De jecas, sempre atuais,
Encurralados, sofrendo,
As mazelas sociais
Estão nas filas de emprego
Ou nos leitos de hospitais.
Disponível: http://www.rnsites.com.br/cordeis.htm, acesso em 12 de out. De 2012.

O ator Amácio Mazzaropi encarnou a figura do “Jeca Tatu” inspirado na obra de Monteiro Lobato “URUPÊS” - além da intertextualidade para o cinema também revelou e valorizou o vocabulário simples dos caipiras do Brasil.

B.   ABC da saudade -  Luiz da Costa Pinheiro
Ausente de ti querida
Que 
alegria posso ter
Quanto mais tempo se passa
Suspiro por não ti ver
Tanto tem a tua ausência
Como tem meu padecer

Basta dizer-te que vivo
Nesta cruel solidão
Me lembrando do momento
De nossa separação
Sentindo uma atroz saudade
Dentro do meu coração
Constante sempre serei
Nesta vida até a morte
Pedindo a Deus paciência
Para cumprir esta 
sorte
Fora de ti mais ninguém
Eu não quero por consorte. [...]
Zombar não zombo de ti
Porque te tenho paixão
Nas letras deste A B C
Te dei minha explicação
Te ofereço meu amor
Guardas no teu coração
http://arteeducacao.pro.br/cultura/cordel, acesso em 11 de out. 2012.

  1. A Moça que Bateu na Mãe e Virou Cachorra - Rodolfo Coelho Cavalcante
Vou contar mais um exemplo
Dentro da realidade
Pois toda alma descrente
Vive na obscuridade
Tem um vácuo coração
Condena a religião
Com toda incredulidade.

Antes um ateu sincero
Do que um mau religioso
Tem muita gente que vive
Zombando do Poderoso
E assim a profanar
Começa de Deus zombar
Termina sempre inditoso. [...]

Helena de vez em quando
Dava surra na mãe dela,
Quando a velha reclamava
Um qualquer malfeito, ela
Com isso se aborrecia,
Na pobre velha batia
Até que virou cadela.

Era u’a sexta-feira Santa,
Conhecida da Paixão,
Helena disse a mãe dela:
-Quero me virar num cão
Se esta tal de Sexta-Feira
Da Paixão, não é besteira
Da nossa religião. [...]
Uma rajada de vento
Passou feito um furacão,
Um raio caiu bem perto
Com o ribombar do trovão
A terra toda tremeu:
Logo o sol apareceu
Dois segundos na amplidão. [...]

Tinha a cabeça de gente
Com a mesma feição dela,
Mas o corpo até a cauda
Era uma horrível cadela...
Foi Helena castigada
Uma filha amaldiçoada
O castigo pegou nela. [...]

Contou-me um tio da moça
Que essa história é patente
Fica um exemplo para outras
Se mirarem em sua frente...
Quem uma mãe não respeita
A pessoa está sujeita
A sofrer amargamente.

A toda moça aconselho:
-Tenha juízo bastante,
“Uma mãe é pra cem filhos”...
Diz o adágio importante,
Zombar de mãe é espeto
Quem escreveu o folheto
Foi RODOLFO
 http://arteeducacao.pro.br/cultura/cordel, acesso em 11 de out. 2012.
A temática do cordel tem uma função social de ensinamento, aconselhamento e transmissão de sabedoria popular.

  1. O Casamento do Macaco com a Onça - Autor: Rodolfo Coelho Cavalcante
Antigamente os bichos
Um com outro conversava
Semelhante aos homens
Dia e noite trabalhava,
 E em questão de comércio
Cada qual negociava.

O Macaco, por exemplo,
Negociava com banana,
Raposa vendia aves
Sempre no fim de semana,
O Rato vendia queijo
E Guará vendia cana.[...]

O Macaco com a Raposa
Viviam um pouco intrigados
Devido que no passado
Tinham sido namorados,
Agora Macaco e Onça
Andavam muito chegados.[...]
No dia do casamento
Quase toda bicharada
Foram para casa da Onça
Que a festa estava animada,
Até a Cachorra foi
Mesmo sem ser convidada. [...]

Burro prendeu o Macaco
Por ordem do Rei Leão,
E o Cachorro foi preso
Pra deixar de ser brigão,
Os bichos se revoltaram
Foi aquela confusão. [...]

Esse fato aconteceu
Antes do homem viver
Mas os bichos como os homens
Tinham o mesmo proceder,
Quem me contou essa história
Inda está para nascer.
BAHIA. Secretaria da Cultura e Turismo. Coordenação de Cultura. Antologia baiana de literatura de cordel. Salvador: A Secretaria, 1997, p. 41, 42, 43, 44 e 45.

O cordel, tradicionalmente, conta uma história que costumam narrar às dificuldades e sofrimentos de um herói que, ao final, triunfa e será recompensado.