quarta-feira, 31 de agosto de 2022

MÓDULO II - Conteúdo Temático do Gênero Cordel

A Arte de Ler e 

Escrever:

 MÓDULO II - Conteúdo Temático do Gênero Cordel


Os temas são variados, desde narrativas tradicionais transmitidas pelo povo oralmente: aventuras, histórias de amor, humor, crítica social, universo sertanejo até ficção – causos maravilhosos, pessoas famosas, e o folheto de caráter jornalístico, modificando-o para torná-lo divertido. É um gênero intermediário entre a oralidade e a escrita, faz uma espécie de ponte entre a cultura popular e a literatura. Portanto, dialoga (presença de intertextualidade) com temas e discursos presentes em outras obras da literatura universal. Remete a passagens bíblicas, lutas e conflitos entre o bem e o mal, em que o bem sempre vence.

  1. Como outras artes influenciam o cordel?
  2. Como o cordel influencia as outras artes?
  3. Quais são os temas abordados nos poemas. Identifique-os de acordo com os títulos dos poemas?
  4. Qual cordel chamou mais a sua atenção? Por quê?
  5. Quais elementos mais comuns estão presentes nos cordéis?
  6. Nos poemas narrativos uma ação desencadeia conflitos, identifique-os?
  1. O Jeca Tatu de Monteiro Lobato --- Medeiros Braga
Eu vou recontar em versos
O que Lobato contou
No seu livro “URUPÊS”
No qual se imortalizou
Ao externar seu talento
No Jeca que projetou.

Essa obra foi escrita
No início do século vinte,
Há mais de noventa anos
E, assim, por conseguinte,
Só se escrevia ao agrado
Das elites de requinte.

Abriu Monteiro Lobato
Na nossa literatura
A trilha e a caminhada
Para uma nova cultura
Onde o homem fosse alvo
Da melhor propositura.[...]

Quando a princesa Izabel
A abolição assinala
Sonorizando os tambores
Pelo quilombo e senzala,
Jeca Tatu só “magina”,
Coça a cabeça e não fala; [...]

A casa é toda de taipa,
Feita de vara e estaca
A pique e barro pastoso
Nessa armação se ensaca
Tornando a parede sólida,
Nem tão forte, nem tão fraca.[...]

Se nada disso resolve
Dentro do tempo esperado
Se busca o São Benedito,
O seu poder defumado,
As águas bentas e o rabo
De tatu tão consagrado. [...]

Com a roupa do casamento
E os sapatos já sem cor
Sai mancando pra pegar,
Com o mais ingênuo fervor
Junto a seu chefe político,
Seu diploma de eleitor.

Votando, não sabe em quem,
Encerra a destinação,
Devolve o diploma ao chefe,
Recebe um aperto de mão
E a lembrança da promessa
Pra bem depois da eleição.

Porém, todo sentimento
De pátria é desconhecido,
Nação, povo solidário,
Pra Jeca não faz sentido...
E se atacado o país
Não toma nenhum partido.[...]

É esse o Jeca Tatu
Que de face enternecida
Não canta, não ri, não ama,
Não fala de voz erguida,
Nem consegue viver bem
No meio de tanta vida.

Mas, pra Monteiro Lobato,
Jeca Tatu foi, então,
O resultado grotesco
Do modelo de gestão
Que se implantou no país
Mas, jamais, por opção.[...]

Então o grande escritor
Compenetrado, por fim,
Ao analisar os dois lados
Do Jeca, o bom e o ruim,
Concluiu que o caboclo
“Não é assim, está assim.”

Sem ter receios de errar
Sob este teto de anil,
Digo com convicção
Que, retratado o perfil,
O infeliz Jeca Tatu
Tem a cara do Brasil.

Brasil que grassa apático
Pelo seu braço cruzado,
Brasil caboclo onde sofre
Um povo hospitalizado,
Brasil análfa que vota
Subserviente e errado.

Esse imenso contingente
De jecas, sempre atuais,
Encurralados, sofrendo,
As mazelas sociais
Estão nas filas de emprego
Ou nos leitos de hospitais.
Disponível: http://www.rnsites.com.br/cordeis.htm, acesso em 12 de out. De 2012.

O ator Amácio Mazzaropi encarnou a figura do “Jeca Tatu” inspirado na obra de Monteiro Lobato “URUPÊS” - além da intertextualidade para o cinema também revelou e valorizou o vocabulário simples dos caipiras do Brasil.

B.   ABC da saudade -  Luiz da Costa Pinheiro
Ausente de ti querida
Que 
alegria posso ter
Quanto mais tempo se passa
Suspiro por não ti ver
Tanto tem a tua ausência
Como tem meu padecer

Basta dizer-te que vivo
Nesta cruel solidão
Me lembrando do momento
De nossa separação
Sentindo uma atroz saudade
Dentro do meu coração
Constante sempre serei
Nesta vida até a morte
Pedindo a Deus paciência
Para cumprir esta 
sorte
Fora de ti mais ninguém
Eu não quero por consorte. [...]
Zombar não zombo de ti
Porque te tenho paixão
Nas letras deste A B C
Te dei minha explicação
Te ofereço meu amor
Guardas no teu coração
http://arteeducacao.pro.br/cultura/cordel, acesso em 11 de out. 2012.

  1. A Moça que Bateu na Mãe e Virou Cachorra - Rodolfo Coelho Cavalcante
Vou contar mais um exemplo
Dentro da realidade
Pois toda alma descrente
Vive na obscuridade
Tem um vácuo coração
Condena a religião
Com toda incredulidade.

Antes um ateu sincero
Do que um mau religioso
Tem muita gente que vive
Zombando do Poderoso
E assim a profanar
Começa de Deus zombar
Termina sempre inditoso. [...]

Helena de vez em quando
Dava surra na mãe dela,
Quando a velha reclamava
Um qualquer malfeito, ela
Com isso se aborrecia,
Na pobre velha batia
Até que virou cadela.

Era u’a sexta-feira Santa,
Conhecida da Paixão,
Helena disse a mãe dela:
-Quero me virar num cão
Se esta tal de Sexta-Feira
Da Paixão, não é besteira
Da nossa religião. [...]
Uma rajada de vento
Passou feito um furacão,
Um raio caiu bem perto
Com o ribombar do trovão
A terra toda tremeu:
Logo o sol apareceu
Dois segundos na amplidão. [...]

Tinha a cabeça de gente
Com a mesma feição dela,
Mas o corpo até a cauda
Era uma horrível cadela...
Foi Helena castigada
Uma filha amaldiçoada
O castigo pegou nela. [...]

Contou-me um tio da moça
Que essa história é patente
Fica um exemplo para outras
Se mirarem em sua frente...
Quem uma mãe não respeita
A pessoa está sujeita
A sofrer amargamente.

A toda moça aconselho:
-Tenha juízo bastante,
“Uma mãe é pra cem filhos”...
Diz o adágio importante,
Zombar de mãe é espeto
Quem escreveu o folheto
Foi RODOLFO
 http://arteeducacao.pro.br/cultura/cordel, acesso em 11 de out. 2012.
A temática do cordel tem uma função social de ensinamento, aconselhamento e transmissão de sabedoria popular.

  1. O Casamento do Macaco com a Onça - Autor: Rodolfo Coelho Cavalcante
Antigamente os bichos
Um com outro conversava
Semelhante aos homens
Dia e noite trabalhava,
 E em questão de comércio
Cada qual negociava.

O Macaco, por exemplo,
Negociava com banana,
Raposa vendia aves
Sempre no fim de semana,
O Rato vendia queijo
E Guará vendia cana.[...]

O Macaco com a Raposa
Viviam um pouco intrigados
Devido que no passado
Tinham sido namorados,
Agora Macaco e Onça
Andavam muito chegados.[...]
No dia do casamento
Quase toda bicharada
Foram para casa da Onça
Que a festa estava animada,
Até a Cachorra foi
Mesmo sem ser convidada. [...]

Burro prendeu o Macaco
Por ordem do Rei Leão,
E o Cachorro foi preso
Pra deixar de ser brigão,
Os bichos se revoltaram
Foi aquela confusão. [...]

Esse fato aconteceu
Antes do homem viver
Mas os bichos como os homens
Tinham o mesmo proceder,
Quem me contou essa história
Inda está para nascer.
BAHIA. Secretaria da Cultura e Turismo. Coordenação de Cultura. Antologia baiana de literatura de cordel. Salvador: A Secretaria, 1997, p. 41, 42, 43, 44 e 45.

O cordel, tradicionalmente, conta uma história que costumam narrar às dificuldades e sofrimentos de um herói que, ao final, triunfa e será recompensado.

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