A Arte de Ler e
MÓDULO II - Conteúdo Temático do Gênero Cordel
Os temas são variados, desde narrativas tradicionais transmitidas pelo povo oralmente: aventuras, histórias de amor, humor, crítica social, universo sertanejo até ficção – causos maravilhosos, pessoas famosas, e o folheto de caráter jornalístico, modificando-o para torná-lo divertido. É um gênero intermediário entre a oralidade e a escrita, faz uma espécie de ponte entre a cultura popular e a literatura. Portanto, dialoga (presença de intertextualidade) com temas e discursos presentes em outras obras da literatura universal. Remete a passagens bíblicas, lutas e conflitos entre o bem e o mal, em que o bem sempre vence.
- Como outras artes influenciam o cordel?
- Como o cordel influencia as outras artes?
- Quais são os temas abordados nos poemas. Identifique-os de acordo com os títulos dos poemas?
- Qual cordel chamou mais a sua atenção? Por quê?
- Quais elementos mais comuns estão presentes nos cordéis?
- Nos poemas narrativos uma ação desencadeia conflitos, identifique-os?
- O Jeca Tatu de Monteiro Lobato --- Medeiros Braga
Eu vou recontar em versos O que Lobato contou No seu livro “URUPÊS” No qual se imortalizou Ao externar seu talento No Jeca que projetou. Essa obra foi escrita No início do século vinte, Há mais de noventa anos E, assim, por conseguinte, Só se escrevia ao agrado Das elites de requinte. Abriu Monteiro Lobato Na nossa literatura A trilha e a caminhada Para uma nova cultura Onde o homem fosse alvo Da melhor propositura.[...] Quando a princesa Izabel A abolição assinala Sonorizando os tambores Pelo quilombo e senzala, Jeca Tatu só “magina”, Coça a cabeça e não fala; [...] A casa é toda de taipa, Feita de vara e estaca A pique e barro pastoso Nessa armação se ensaca Tornando a parede sólida, Nem tão forte, nem tão fraca.[...] Se nada disso resolve Dentro do tempo esperado Se busca o São Benedito, O seu poder defumado, As águas bentas e o rabo De tatu tão consagrado. [...] Com a roupa do casamento E os sapatos já sem cor Sai mancando pra pegar, Com o mais ingênuo fervor Junto a seu chefe político, Seu diploma de eleitor. Votando, não sabe em quem, Encerra a destinação, Devolve o diploma ao chefe, | Recebe um aperto de mão E a lembrança da promessa Pra bem depois da eleição. Porém, todo sentimento De pátria é desconhecido, Nação, povo solidário, Pra Jeca não faz sentido... E se atacado o país Não toma nenhum partido.[...] É esse o Jeca Tatu Que de face enternecida Não canta, não ri, não ama, Não fala de voz erguida, Nem consegue viver bem No meio de tanta vida. Mas, pra Monteiro Lobato, Jeca Tatu foi, então, O resultado grotesco Do modelo de gestão Que se implantou no país Mas, jamais, por opção.[...] Então o grande escritor Compenetrado, por fim, Ao analisar os dois lados Do Jeca, o bom e o ruim, Concluiu que o caboclo “Não é assim, está assim.” Sem ter receios de errar Sob este teto de anil, Digo com convicção Que, retratado o perfil, O infeliz Jeca Tatu Tem a cara do Brasil. Brasil que grassa apático Pelo seu braço cruzado, Brasil caboclo onde sofre Um povo hospitalizado, Brasil análfa que vota Subserviente e errado. Esse imenso contingente De jecas, sempre atuais, Encurralados, sofrendo, As mazelas sociais Estão nas filas de emprego Ou nos leitos de hospitais. |
Disponível: http://www.rnsites.com.br/cordeis.htm, acesso em 12 de out. De 2012.
O ator Amácio Mazzaropi encarnou a figura do “Jeca Tatu” inspirado na obra de Monteiro Lobato “URUPÊS” - além da intertextualidade para o cinema também revelou e valorizou o vocabulário simples dos caipiras do Brasil.
B. ABC da saudade - Luiz da Costa Pinheiro
Ausente de ti querida Que alegria posso ter Quanto mais tempo se passa Suspiro por não ti ver Tanto tem a tua ausência Como tem meu padecer Basta dizer-te que vivo Nesta cruel solidão Me lembrando do momento De nossa separação Sentindo uma atroz saudade Dentro do meu coração | Constante sempre serei Nesta vida até a morte Pedindo a Deus paciência Para cumprir esta sorte Fora de ti mais ninguém Eu não quero por consorte. [...] Zombar não zombo de ti Porque te tenho paixão Nas letras deste A B C Te dei minha explicação Te ofereço meu amor Guardas no teu coração |
http://arteeducacao.pro.br/cultura/cordel, acesso em 11 de out. 2012.
- A Moça que Bateu na Mãe e Virou Cachorra - Rodolfo Coelho Cavalcante
Vou contar mais um exemplo Dentro da realidade Pois toda alma descrente Vive na obscuridade Tem um vácuo coração Condena a religião Com toda incredulidade. Antes um ateu sincero Do que um mau religioso Tem muita gente que vive Zombando do Poderoso E assim a profanar Começa de Deus zombar Termina sempre inditoso. [...] Helena de vez em quando Dava surra na mãe dela, Quando a velha reclamava Um qualquer malfeito, ela Com isso se aborrecia, Na pobre velha batia Até que virou cadela. Era u’a sexta-feira Santa, Conhecida da Paixão, Helena disse a mãe dela: -Quero me virar num cão Se esta tal de Sexta-Feira Da Paixão, não é besteira Da nossa religião. [...] | Uma rajada de vento Passou feito um furacão, Um raio caiu bem perto Com o ribombar do trovão A terra toda tremeu: Logo o sol apareceu Dois segundos na amplidão. [...] Tinha a cabeça de gente Com a mesma feição dela, Mas o corpo até a cauda Era uma horrível cadela... Foi Helena castigada Uma filha amaldiçoada O castigo pegou nela. [...] Contou-me um tio da moça Que essa história é patente Fica um exemplo para outras Se mirarem em sua frente... Quem uma mãe não respeita A pessoa está sujeita A sofrer amargamente. A toda moça aconselho: -Tenha juízo bastante, “Uma mãe é pra cem filhos”... Diz o adágio importante, Zombar de mãe é espeto Quem escreveu o folheto Foi RODOLFO |
http://arteeducacao.pro.br/cultura/cordel, acesso em 11 de out. 2012.
A temática do cordel tem uma função social de ensinamento, aconselhamento e transmissão de sabedoria popular.
- O Casamento do Macaco com a Onça - Autor: Rodolfo Coelho Cavalcante
Antigamente os bichos Um com outro conversava Semelhante aos homens Dia e noite trabalhava, E em questão de comércio Cada qual negociava. O Macaco, por exemplo, Negociava com banana, Raposa vendia aves Sempre no fim de semana, O Rato vendia queijo E Guará vendia cana.[...] O Macaco com a Raposa Viviam um pouco intrigados Devido que no passado Tinham sido namorados, Agora Macaco e Onça Andavam muito chegados.[...] | No dia do casamento Quase toda bicharada Foram para casa da Onça Que a festa estava animada, Até a Cachorra foi Mesmo sem ser convidada. [...] Burro prendeu o Macaco Por ordem do Rei Leão, E o Cachorro foi preso Pra deixar de ser brigão, Os bichos se revoltaram Foi aquela confusão. [...] Esse fato aconteceu Antes do homem viver Mas os bichos como os homens Tinham o mesmo proceder, Quem me contou essa história Inda está para nascer. |
BAHIA. Secretaria da Cultura e Turismo. Coordenação de Cultura. Antologia baiana de literatura de cordel. Salvador: A Secretaria, 1997, p. 41, 42, 43, 44 e 45.
O cordel, tradicionalmente, conta uma história que costumam narrar às dificuldades e sofrimentos de um herói que, ao final, triunfa e será recompensado.
A palavra fala,
ResponderExcluira palavra diz,
a palavra pensa em
Leitura.
PROJETO DE ROSANGELA BARROS DE LIMA
ResponderExcluir