quarta-feira, 31 de agosto de 2022

A Arte de Ler e Escrever: MÓDULO I – O Cordel

 A Arte de Ler e 

Escrever: 
MÓDULO I – O Cordel

Muitos historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura com o objetivo de buscarem informações preciosas sobre a cultura e a história de uma época. Em meio à ficção, resgatam-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos, linguagem, arquitetura, etc. 
(http://www.suapesquisa.com/cordel, ac. 10 de out. 2012). 

Vídeo: Cordel. Literatura de Cordel, tipo de poesia popular, originalmente oral, impressa em folhetos rústicos, expostos para venda e pendurados em cordas ou cordéis. 
Disp. http://youtu.be/dd3IskH6LNU, 11 out. 2012.

Para aprender sobre a origem do cordel, você vai ler algumas estrofes do cordelista e poeta Rodolfo Coelho Cavalcante. De acordo com o poema explore os aspectos do Gênero Cordel (sócio-história, literário, contexto de produção e circulação).

Ø  O que é literatura de cordel?
Ø  De onde vem a palavra cordel?
Ø  Por que o poema diferencia cordel de cordel-literatura?
Ø  Quais características do cordel brasileiro você identificou no poema?
Ø  O poema que você leu está versificado em sextilhas ou setilhas?
Ø  Por que o eu lírico afirma que “não vale cordel em prosa”?
Ø  cordel legítimo é comparado ao jornal. Por que isso acontece, levando em consideração suas visitas a sites e discussões anteriores?
Ø  Na literatura, como o cordel é contextualizado?

Origem da literatura de cordel e sua expressão de cultura nas letras de nosso país
Cordel quer dizer barbante
Ou senão mesmo cordão,
Mas cordel-literatura
É a real expressão
Como fonte de cultura
Ou melhor poesia pura
Dos poetas do sertão.
Na França, também Espanha
Era nas bancas vendida,
Que fosse em prosa ou em verso
Por ser a mais preferida,
Com o seu preço popular
Poderia se encontrar
Nas esquinas da avenida.
[...]
No Brasil é diferente
O cordel-literatura
Tem que ser todo rimado
Com sua própria estrutura
Versificado em sextilhas
Ou senão em setilhas
Com a métrica mais pura.
Neste estilo o vate escreve
Em forma de narração
Fatos, romances, histórias
De realismo, ficção;
Não vale cordel em prosa,
E em décima na glosa
Se verseja no sertão.[...]
O cordel é dividido
Escrito, cantado, oral,
Porém o cordel legítimo
É aquele tipo jornal,
Que trazia a notícia nova
Em sextilhas, nunca em trova
Que agrada o pessoal.
O cordel sendo cultura
Hoje tem sua tradição,
Chamado literatura
Veículo de educação
Retrata histórias passadas
Que estão documentadas
Para toda geração.



Vate: poeta.

Glosa: composição
poética de dez versos
(décima), na qual se
inclui o tema de um
ou de dois versos.

Trova: composição
literária formada
de quatro versos
setissílabos rimados




CAVALCANTE, Rodolfo Coelho. Cordel.
São Paulo: Hedra, 2003, p. 37-45.

O termo cordel vem do provençal, significa cordão. Na Europa, nosso berço literário, Cordel era tudo que ia para a corda: livretos com orações, contos, quadrinhos, etc.. É no Brasil, precisamente no Nordeste, que a Literatura de Cordel ganha à conotação de narrativa em versos, além de outras conotações, como a de jornal, a de revista; é uma atividade artística de contar histórias com valores morais. Os folhetos poéticos ficam pendurados por cordões, expostos em uma pequena mala ou espalhados sobre uma lona para exposição nas feiras culturais. Leandro Gomes de Barros e Atayde são dois dentre os primeiros poetas. Esses trovadores, geralmente, quando declamam são acompanhados por uma viola e/ou sanfona. São narrativas em versos sobre temas do cotidiano, fatos que são notícias e fictícios.
BAHIA. Secretaria da Cultura e Turismo. Coordenação de Cultura. Antologia baiana de literatura de cordel. Salvador: A Secretaria, 1997.

Lampião uma história inglória
Amigos tomem assento
Nessa roda de cordel
Que vou cantar um lamento
Um pouco de mel e fel.
Vou falar de um brasileiro
Em Vila Bela nascido
Que tornou-se cangaceiro
Arrojado e destemido. [...]

Veio ao mundo um menino
De José e de Maria
Foi chamado Virgolino
Oito irmãos ele teria. [...]
Cedo parou de estudar.
Pra ajudar no sustento
Foi para o pasto aboiar,
Pra garantir o alimento.
Foram Antonio e Levino
Dois de seus oito manos
Que mudaram o destino
E criaram novos planos.
Envolveram-se em brigas
Por marcações de terrenos
E muitas outras intrigas
Outros conflitos pequenos. [...]
Virou um temido bandido
Lá pras bandas do Nordeste
Vivia sempre escondido
Num sofrimento inconteste.

Em Juazeiro do Norte
Chamado por Padim Ciço
Pensou que mudaria a sorte
Com valoroso serviço.

Levou uma reprimenda
Pelo seu mau proceder
E teve por encomenda
No interior combater. [...]
Bandeou-se pra Bahia,
Sergipe e Alagoas.
Lá teve melhores dias
Aquela área era boa.
Por lá um dia ele vem
Conhecer Maria Bonita
Maria Déia Nenén
Numa paixão infinita. [...]

Mais tarde, Maria Bonita,
Com Lampião por parteiro
Deu à luz Expedita
Embaixo de um imbuzeiro. [...]

A criança foi deixada
Com um fiel guardião
E seguiu sua jornada
O bando de Lampião. [...]

Lampião em sua roda
Desenhava o figurino.
Ele ditava a moda
Criando modelos finos. [...]
Lampião era uma lenda
Até uma madrugada
Quando estava na fazenda
De nome Angicos chamada.

Chegou, então, a volante
Eu um proceder perfeito.
Devagar e num instante
O estrago estava feito. [...]
As cabeças arrancadas
Do bando de Lampião
Correram o mundo mostradas
Numa vil exposição,
Agora, meu bom amigo,
Eu peço sua atenção
E que reflita comigo
Em delicada questão.
Lampião não era santo,
Ao menos pelo que sei
Mas convenha, no entanto,
Que pra isso existe a lei.
O proceder da volante
Foi coisa de carniceiro.
Atitude revoltante
Pior que a dos cangaceiros.
Josafá M. Costa, R.J. Disp: http:// www.mundojovem.com.br/poesias-poemas/cordel. Ac.: 09/10/12


Poema escrito para ser facilmente memorizado, cantado e recitado em praças, feiras e comunidades locais, o cordel mantém forte relação com as narrativas orais, por isso é comum uma função social educativa e de formação: ensinamento, aconselhamento, moral.

A)   Qual é o tema desse poemaPor que identificamos esse poema como atual?
B)   Os personagens desse poema são conhecidos em outro campo do conhecimento. Qual?
C)   Como o poeta se apresenta no texto do cordel? O que ele se dispõe a fazer?
D)   Que relação social o texto dá a entender? Destaque passagens do texto que justifique a sua resposta.
O cordel conta uma história e os fatos foram expostos de modo a se reconstruir o fio narrativo. Diferente do gênero notícia, cujo jornalista procura se manter imparcial aos fatos; no poema, há expressões que mostram o posicionamento do eu lírico perante os fatos narrados.

E)   Retire versos que revelem a opinião que o eu lírico tem de Lampião. A caracterização do herói na narrativa de cordel: perfil social e cultural.


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