terça-feira, 4 de junho de 2013

Experiências de Leitura e Escrita - Rosangela

Experiências de Leitura e Escrita – Rosangela

O dia que Encontrei meu Primeiro Amor

     Um tempo cinzento, a televisão de 29 polegadas era ligada no Jornal Nacional e na novela das “8”. Estranho mundo, a vida é isso. No bairro, um comércio modesto e nenhuma recreação. Na escola, um tédio, pensava em estudar para não repetir e ficar com a mesma jararaca no ano seguinte. Só essa ideia me deixava aterrorizada. Que tédio!
      O sol levantava de seu sono e depois pulava para a cama sonhando com as estrelas. O dia iluminou-se, apesar do frio do mês de junho. Tropecei para atender a minha madrinha, estava ansiosa, em plena expectativa. O que será¿ Ela se lembrou de mim¿ Apesar das dificuldades financeiras, será que vou ganhar algo diferente, além de roupas que logo iam para a minha irmã.
      Meus 10 anos, saí do algarismo único para iniciar a jornada com dois números. Bem, passado a lavagem cerebral de tudo que envolvia o mundo feminino, meu olhar continuava fico no pacotinho. O que será: uma Correntinha, uma roupinha (espero que não seja uma coleção de calcinhas de novo), um pijama, uma bonequinha. Ela me abençoou e me deu o pacotinho.
       Que estranho! Compacto, firme. Surpreendente! Era um livro. Logo, apaixonei-me pela cor: era um branquinho neve. Iluminou o meu dia. Eu fui a única afilhada, dos 10, que gostou do presente. Fiquei analisando a apresentação visual do livro: a menina com seu vestido rodado, uns bichinhos esquisitinhos, um gato gordo, aquele menino com um chapéu longo contendo vários bilhetinhos. O jogo de cartas que marchavam e se penduravam nas árvores cheias de rosas brancas. 
      Comecei a leitura, comia lendo, via TV lendo, brincava com meus irmãos lendo, lavava louça lendo, só não tomava banho lendo, porque era o meu bem mais precioso. Durante o mês, acho que li três vezes. A minha madrinha ficou contente quando soube que adorei o presente. O restante dos afilhados jogou no canto ou até fora e cochicharam que “se fosse para dar besteira não desse porcaria.”
     Eu fiquei indignada, que horror, eles não viram o livro, não leram a história. Senti que o mundo tentava ficar nebuloso, mas quando olhava para ele, o meu primeiro amor, o meu Yenamorava-se e tive a certeza que havia algo além do que aquelas quatro paredes de preconceito. Prestei mais atenção no conjunto social e fiquei a refletir o que é essa tal humanidade.
    Um beijo e um abraço ao meu companheiro que despertou e acalentou o meuYpor muito tempo... Meu amigo &
       Hoje, 2013, ainda contenho este livro: Alice no País das Maravilhas.

No depoimento de Antonio Candido sobre “Visão de mundo” diz que a literatura fornece uma reflexão sobre a humanidade e desenvolve a percepção estética nos tornando aptos a compreender o nosso semelhante. Já Rubem Alves: “Leiam! Comam! Bebam! [...] É magia.”.

Devorar um livro é se revelar para A VIDA.

O aluno e nós necessitamos degustar a leitura e apreender o sentido da realidade, pois é pela leitura que se desenvolve a capacidade de empatia, a leitura de interação.
Ter como procedimento inserir um método de como educar a emoção, percebendo a realidade e participando construtivamente do seu meio ambiente.  
Afinal, o conhecimento parte de uma leitura contextualizada.


Lembro-me de meu avô contando histórias de fantasmas. Para desacelerar a criançada, meu avô brincava com os netos e sempre deixava um suspense no final das histórias mineiras. Todos imaginavam os personagens, do curupira à mula-sem-cabeça. Um dia ele disse que viu uma sereia, mas como amava minha avó não foi até o lago. Minha avó estava remexendo as panelas e só olhava-lhe por cima dos óculos.
Nessas histórias relatou que a mula-sem-cabeça era um rapaz bonito, porém pobre e o fazendeiro não permitiu o casamento com sua filha. Fez um pacto com uma bruxa e conseguiu casar. Porém, quando ficou velho e a esposa faleceu; perdeu a forma humana e se transformou na mula.
Moral da história: não cobiçar o que é dos outros.


Não havia muito nexo nas histórias do meu avô, porém divertia a criançada e ele aproveitava para inserir frases religiosas no final de cada história.



Tranquiliza a sua alma quando nos alimentamos de boas leituras. O que nos desenvolve a percepção, ter outro olhar para a realidade, pois quem escreve ou escreveu transmite suas reflexões; doa seus pensamentos para ENSINAR ao próximo.

A infância com Monteiro Lobato
Há um elemento comum nas entrevistas realizadas pelo jornalista Gilberto Dimenstein sobre experiências com leitura e escrita de Gabriel, o Pensador e Gilberto Gil: a avó. Foram responsáveis para despertar o interesse ao mundo da leitura. Gil relata que aprendeu narrativas épicas, sobre o mundo de Monteiro Lobato concomitantemente com as refeições da família; sua avó cozinhava e ensinava. Também aprendi a ler e a escrever na cozinha com minha professora mãe. Não tínhamos condições de comprar livros, porém me lembro de algumas revistinhas infantis que eram dadas nos mercados e nas farmácias – dentre elas: o folhetim de histórias de Monteiro Lobato, cuja personagem “Jeca Tatu” era fraco e ficou forte tomando biotônico Fontoura. Ah! O cachorro do Jeca também tomou o tônico e juntos construíram uma casa linda. Eu adorava essas revistinhas com historinhas repletas de imagens coloridas e a partir deste momento, comecei a ler as minhas primeiras palavrinhas.
Realmente, a criança só irá despertar para o mundo quando os pais perceberem que o mundo está centralizado no convívio, nas marcas positivas que deixam como herança para seus filhos. É o início da educação emocional.
      
Na minha vida como estão presentes... 
A poesia e A música... Bem!

Meu pai costumava cantar os trechos poéticos da música de Luiz Gonzaga:
 “Asa Branca”    
“A Volta da Asa Branca”
“Riacho do Navio”
Eram as preferidas e, quase toda a semana, ele cantava e relembrava passagens de sua vida no sertão pernambucano e, como veio parar em São Paulo – trecho também de uma música de Gonzaga – “Pau de Arara”.
Momentos eternos e hoje, verifico com alegria que as músicas de Luiz Gonzaga são consideradas “os clássicos” e a história deste povo respeitada por intermédio da Musa de Gilberto Gil: a Música.
Não poderia esquecer que a música romântica de meus pais era “Ritmo da Chuva” de Demétrius da coleção Estúpido Cupido. Minha mãe costumava ouvi-la para relembrar de meu pai...

Falando em poesia
A poetisa Clair Feliz Regina iniciou a sua jornada “no mundo da fantasia” aos 80 anos: ...de noite ter um manto de estrelas para me agasalhar...

Lembrei-me de Cora Coralina tinha 76 anos quando seu primeiro livro foi publicado, com 90 sua obra chegou às mãos de Carlos Drummond de Andrade.

“Viver a poesia, viver para a poesia” = Clair Feliz Regina;

"O livro é um mundo porque cria mundos..." = Marilena Chauí.

Para Violla = “... me acalma e alimenta espiritualmente.”


O despertar pode acontecer em qualquer época,
 na nossa vida, 
basta acreditarmos...

2 comentários:

  1. A palavra fala,
    a palavra diz,
    a palavra pensa em
    Leitura.
    Faça seu comentário e dê suas sugestões em nosso espaço.

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  2. ELABORAÇÃO DO PROJETO ROSANGELA BARROS DE LIMA

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