Experiências
de Leitura e Escrita – Rosangela
O dia que Encontrei
meu Primeiro Amor
Um tempo cinzento, a televisão de 29 polegadas era ligada no
Jornal Nacional e na novela das “8”. Estranho mundo, a vida é isso. No bairro,
um comércio modesto e nenhuma recreação. Na escola, um tédio, pensava em estudar
para não repetir e ficar com a mesma jararaca no ano seguinte. Só essa ideia me
deixava aterrorizada. Que tédio!
O sol levantava de seu sono e depois
pulava para a cama sonhando com as estrelas. O dia iluminou-se, apesar do frio
do mês de junho. Tropecei para atender a minha madrinha, estava ansiosa, em
plena expectativa. O que será¿ Ela se lembrou de mim¿ Apesar das dificuldades
financeiras, será que vou ganhar algo diferente, além de roupas que logo iam
para a minha irmã.
Meus 10 anos, saí do algarismo único para
iniciar a jornada com dois números. Bem, passado a lavagem cerebral de tudo que
envolvia o mundo feminino, meu olhar continuava fico no pacotinho. O que será:
uma Correntinha, uma roupinha (espero que não seja uma coleção de calcinhas de
novo), um pijama, uma bonequinha. Ela me abençoou e me deu o pacotinho.
Que estranho! Compacto, firme.
Surpreendente! Era um livro. Logo, apaixonei-me pela cor: era um branquinho
neve. Iluminou o meu dia. Eu fui a única afilhada, dos 10, que gostou do presente.
Fiquei analisando a apresentação visual do livro: a menina com seu vestido
rodado, uns bichinhos esquisitinhos, um gato gordo, aquele menino com um chapéu
longo contendo vários bilhetinhos. O jogo de cartas que marchavam e se
penduravam nas árvores cheias de rosas brancas.
Comecei a leitura, comia lendo, via TV lendo, brincava com
meus irmãos lendo, lavava louça lendo, só não tomava banho lendo, porque era o
meu bem mais precioso. Durante o mês, acho que li três vezes. A minha madrinha
ficou contente quando soube que adorei o presente. O restante dos afilhados
jogou no canto ou até fora e cochicharam que “se fosse para dar besteira não
desse porcaria.”
Eu fiquei indignada, que horror, eles não
viram o livro, não leram a história. Senti que o mundo tentava ficar nebuloso,
mas quando olhava para ele, o meu primeiro amor, o meu Yenamorava-se e tive a certeza que havia algo além do que
aquelas quatro paredes de preconceito. Prestei mais atenção no conjunto social
e fiquei a refletir o que é essa tal humanidade.
Um beijo e um abraço ao meu companheiro
que despertou e acalentou o meuYpor muito tempo... Meu amigo &
Hoje, 2013, ainda contenho este livro: Alice no País das
Maravilhas.
No depoimento de
Antonio Candido sobre “Visão de mundo” diz que a literatura fornece uma
reflexão sobre a humanidade e desenvolve a percepção estética nos tornando
aptos a compreender o nosso semelhante. Já Rubem
Alves: “Leiam! Comam! Bebam! [...] É magia.”.
Devorar um livro é se revelar para A VIDA.
O aluno e
nós necessitamos degustar a leitura e apreender o sentido da realidade, pois é
pela leitura que se desenvolve a capacidade de empatia, a leitura de interação.
Ter como
procedimento inserir um método de como educar a emoção, percebendo a realidade
e participando construtivamente do seu meio ambiente.
Afinal, o conhecimento
parte de uma leitura contextualizada.
Lembro-me de meu avô
contando histórias de fantasmas. Para desacelerar a criançada, meu avô brincava
com os netos e sempre deixava um suspense no final das histórias mineiras.
Todos imaginavam os personagens, do curupira à mula-sem-cabeça. Um dia ele
disse que viu uma sereia, mas como amava minha avó não foi até o lago. Minha
avó estava remexendo as panelas e só olhava-lhe por cima dos óculos.
Nessas histórias relatou
que a mula-sem-cabeça era um rapaz bonito, porém pobre e o fazendeiro não
permitiu o casamento com sua filha. Fez um pacto com uma bruxa e conseguiu
casar. Porém, quando ficou velho e a esposa faleceu; perdeu a forma humana e se
transformou na mula.
Não havia muito nexo nas
histórias do meu avô, porém divertia a criançada e ele aproveitava para inserir
frases religiosas no final de cada história.
Tranquiliza a sua
alma quando nos alimentamos de boas leituras. O que nos desenvolve a percepção,
ter outro olhar para a realidade, pois quem escreve ou escreveu transmite suas
reflexões; doa seus pensamentos para ENSINAR ao próximo.
A
infância com Monteiro Lobato
Há um elemento
comum nas entrevistas realizadas pelo jornalista Gilberto Dimenstein sobre experiências
com leitura e escrita de Gabriel, o Pensador e Gilberto Gil: a avó. Foram
responsáveis para despertar o interesse ao mundo da leitura. Gil relata que
aprendeu narrativas épicas, sobre o mundo de Monteiro Lobato concomitantemente
com as refeições da família; sua avó cozinhava e ensinava. Também aprendi a ler
e a escrever na cozinha com minha professora mãe. Não tínhamos condições de
comprar livros, porém me lembro de algumas revistinhas infantis que eram dadas
nos mercados e nas farmácias – dentre elas: o folhetim de histórias de Monteiro
Lobato, cuja personagem “Jeca Tatu” era fraco e ficou forte tomando biotônico
Fontoura. Ah! O cachorro do Jeca também tomou o tônico e juntos construíram uma
casa linda. Eu adorava essas revistinhas com historinhas repletas de imagens
coloridas e a partir deste momento, comecei a ler as minhas primeiras
palavrinhas.
Realmente, a criança
só irá despertar para o mundo quando os pais perceberem que o mundo está
centralizado no convívio, nas marcas positivas que deixam como herança para
seus filhos. É o início da educação emocional.
Na minha vida como estão
presentes...
A poesia e A música... Bem!
Meu pai costumava cantar
os trechos poéticos da música de Luiz Gonzaga:
“Asa Branca”
“A Volta da Asa Branca”
“Riacho do Navio”
Eram as preferidas e,
quase toda a semana, ele cantava e relembrava passagens de sua vida no sertão
pernambucano e, como veio parar em São Paulo – trecho também de uma música de
Gonzaga – “Pau de Arara”.
Momentos eternos e hoje,
verifico com alegria que as músicas de Luiz Gonzaga são consideradas “os clássicos”
e a história deste povo respeitada por intermédio da Musa de Gilberto Gil: a
Música.
Não
poderia esquecer que a música romântica de meus pais era “Ritmo da Chuva” de Demétrius
da coleção Estúpido Cupido. Minha mãe costumava ouvi-la para relembrar de meu
pai...
Falando em poesia
A poetisa Clair Feliz Regina
iniciou a sua jornada “no mundo da fantasia” aos 80 anos: ...de noite ter um manto de estrelas para
me agasalhar...
Lembrei-me de
Cora Coralina tinha 76 anos quando seu primeiro livro foi
publicado, com 90 sua obra chegou às mãos de Carlos Drummond de Andrade.
“Viver a poesia, viver
para a poesia” = Clair Feliz Regina;
"O livro é um mundo porque cria
mundos..." = Marilena Chauí.
Para
Violla = “... me acalma e alimenta
espiritualmente.”
O
despertar pode acontecer em qualquer época,
na nossa vida,
basta acreditarmos...
na nossa vida,
basta acreditarmos...
A palavra fala,
ResponderExcluira palavra diz,
a palavra pensa em
Leitura.
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ELABORAÇÃO DO PROJETO ROSANGELA BARROS DE LIMA
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