quarta-feira, 5 de junho de 2013

Receitas Mágicas

Receitas Mágicas

O texto de Rojo (2004) inicia com uma colocação bem original a de Ziraldo: “Ler é melhor que estudar.” Desenvolve-se a perspectiva multicultural, motivo pelo qual o leitor deve ser o protagonista da sua leitura. Portanto,
  

Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de distanciar-se dele, capaz de admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua própria criação, um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se. (FREIRE, 1996, p.17).







FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA   

Marcuschi (2006, p. 03) define: Gênero (textual, de texto, discursivo, do discurso) – Trata-se de textos orais ou escritos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária com padrões sócio-comunicativos característicos definidos por sua composição, objetivos enunciativos e estilo concretamente realizado por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas. Os gêneros constituem uma listagem aberta, são entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações tais como: sermão, carta comercial, [...].





O trabalho com gêneros textuais no ensino de língua portuguesa
O ensino de língua portuguesa, século XXI, tem como base o trabalho com gêneros textuais. Nesse tipo de ensino salientam-se questões sobre leitura, reflexões sobre preconceito linguístico, a criação poética e o próprio diálogo intertextual. O texto de Rojo (2004) inicia com uma colocação bem original a de Ziraldo, que diz: “Ler é melhor que estudar”, sobre a qual aparece o depoimento de Miúcha, irmã de Chico Buarque de Holanda, afirmando que, o pai Sérgio, historiador de Raízes do Brasil, mantinha em casa um ambiente com muitos livros, portanto já havia o contato dos filhos com os livros, além do que, o pai, desafiava criativamente a curiosidade deles para a leitura de textos com gêneros diversos. Bazerman (2006, p. 23) afirma que:

[...] os gêneros moldam os pensamentos que formamos e as comunicações através das quais interagimos. Gêneros são os lugares familiares para onde nos dirigimos para criar ações comunicativas inteligíveis uns com os outros e são os modelos que utilizamos para explorar o não familiar.

O texto retoma a colocação de Ziraldo e interpreta-se que realmente a leitura e a produção de gêneros textuais desenvolvem no cidadão a fluência comunicativa e o potencial de observar a realidade com uma perspectiva multicultural. Observa-se a importância do ato de ler na sociedade, sem leitura não há cidadania. Motivo pelo qual o aluno deve ser o protagonista da sua leitura. Portanto,

Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de distanciar-se dele, capaz de admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua própria criação, um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se. (FREIRE, 1996, p.17).

Para isso, precisa desenvolver as capacidades necessárias para se tornar um leitor não somente perceptual, mas cognitivo. Ter a voz discursiva e capaz de intertextualizar com outros gêneros.

Mas ser letrado e ler na vida e na cidadania é muito mais que isso: é escapar da literalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e avaliando posições e ideologias que constituem seus sentidos; é, enfim, trazer o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela. Mais que isso, as práticas de leitura na vida são muito variadas e dependentes de contexto, cada um deles exigindo certas capacidades leitoras e não outras. (ROJO, 2004, p. 02).

Rojo (2004) propõe uma leitura cidadã e apresenta procedimentos para desenvolver a habilidade leitora não somente perceptuais e práxicas, como também as cognitivas e linguístico-discursivas de leitura: “[...] envolve conhecimento de mundo, conhecimento de práticas sociais e conhecimentos linguísticos muito além dos fonemas”, (ROJO, 2004, p. 03). Da compreensão à interação entre o leitor e o autor, elucida “esfera social de comunicação”, (IDEM). A leitura não é somente um ato de reconhecer os símbolos envolve procedimentos mais amplos e dinâmicos para compreender a palavra e o discurso como especifica Rojo (2004, p. 07) nesse trecho:

[...] acercarmos da palavra não de maneira autoritária, colada ao discurso do autor, para repeti-lo “de cór”; mas de maneira internamente persuasiva, isto é, podendo penetrar plasticamente, flexivelmente as palavras do autor, mesclar-nos a elas, fazendo de suas palavras nossas palavras, para adotá-las, contrariá-las, criticá-las, em permanente revisão e réplica.

A autora ressalta que a escola só ensinou o básico no que tange à capacidade leitora – através de dados coletados e analisados nos exames nacionais. E salienta que a prática de leitura requer capacidades diversas de decodificação; de compreensão textual e de informação; de interpretação e interação (contexto, finalidade, intertextualidade, interdiscursividade, linguagem, apreciações estéticas e éticas). Como aponta Schneuwly e Dolz (2004, p. 80 apud Braga e Buzato, 2012, p. 02) que “[...] toda introdução de um gênero na escola é o resultado de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem.” Unindo-se a essa teoria, Marcuschi (2006, p. 19) discute que:

[...] os gêneros devem ser vistos na relação com as práticas sociais, os aspectos cognitivos, os interesses, as relações de poder, as tecnologias, as atividades discursivas e no interior da cultura. Eles mudam, fundem-se, misturam-se para manter sua identidade funcional com inovação organizacional.

E, completando com Bakhtin (2000, p. 302 e 279) sobre gêneros:

[...] gêneros são mais maleáveis, mais plásticos e mais livres do que as formas da língua. [...] A diversidade dos gêneros deve-se ao fato de variarem conforme as circunstâncias, a posição social [...] as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua [...], mas cada esfera da utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados [...] que denominamos gêneros do discurso.

Explica Rojo (2005, p. 185), que a: “[...] teoria dos gêneros do discurso – centra-se, sobretudo no estudo das situações de produção dos enunciados ou textos em seus aspectos sócio-históricos [...] e teoria dos gêneros de textos – na descrição da materialidade textual.” Uma relação entre discurso e texto estabelece segundo Orlandi (1988 apud Zoppi-Fontana, 2012, p. 06): “uma identificação do sujeito que lê com um determinado gesto de leitura” com produções singulares.

Todo gesto de leitura já constitui um recorte e uma fixação dos processos de interpretação realizados a partir de um texto e em condições de produção específicas, sendo a escola um lugar privilegiado para sua estabilização e legitimação. (ZOPPI-FONTANA, 2012, p. 06, grifo meu).

Há um encontro interpessoal, uma impressão entre os sujeitos: o autor e o efeito-leitor estão conectados, um diálogo entre autor e leitor.

[...] convenções dos gêneros têm uma natureza contextual (quem produz, para quem produz, em que tipo de contexto/domínio social, com que função social), uma natureza discursiva (o que pode ser dito e o que não pode ser dito e a partir de qual lugar discursivo) e uma natureza textual (forma composicional e estilo). (BENTES, 2012, p. 02).

Propõe-se o estabelecimento de metas para a produção de textos: o conteúdo temático, a construção composicional e o estilo.  

A sua construção composicional, quanto o seu conteúdo temático e seu estilo variam consideravelmente através dos séculos. [...] Os gêneros são processos discursivos dinâmicos que se sedimentam historicamente pela sua circulação na sociedade, dadas determinadas condições de produção. (ZOPPI-FONTANA, 2012, p. 02). 

Ao analisarmos a produção de texto, Marcuschi (2010, p. 01) esclarece que “produzir um texto é uma atividade bastante complexa e pressupõe um sujeito [...] atento às exigências [...] ao contexto sócio-histórico cultural, seja um produtor que possa realizar diversas ações e projeções de natureza textual, discursiva e cognitiva.” Verifica-se que:

O papel da escola é dessa perspectiva, levar o aluno ao entendimento do que é a linguagem, orientando-o a refletir produtivamente sobre a sua língua e fornecendo-lhe instrumentos que os habilitem a empregar conscientemente os mais variados recursos de expressão em diferentes níveis gramaticais (fonológico, morfológico, sintático, morfossintático, morfolexical etc.). (AVELAR, 2012, p. 04).   

Partindo dessa teoria: “Construir nos alunos uma representação da atividade de escrita e de fala em situações complexas, como produto de um trabalho, de uma lenta elaboração”. (DOLZ et al, 2004[2001] p.16). Os autores elaboraram um procedimento didático para ensinar os gêneros. Com essa teoria o professor elabora uma sequência de ensino partindo desses pressupostos: conteúdo temático, forma composicional e estilo.

O conteúdo temático estabelece o domínio de sentido de um gênero, caracterizando-o como uma forma típica de apreensão do real. Por determinar o nível de profundidade e os processos de seleção na abordagem da realidade, o tema constitui a visão de mundo própria do gênero. As esferas discursivas, por meio de suas coerções, determinam o conteúdo temático de um gênero ao delimitar o seu campo de atuação na sociedade. (CARETTA, 2008, p.19).

Seguindo o pressuposto a “[...] forma composicional responde pela organização e pela estruturação do gênero e funciona como uma forma que deve levar em conta os modelos da esfera e as possibilidades de comunicação” (CARETTA, 2008, p.19). Não deixando de analisar o quadro multissemiótico da oralidade: ritmo de fala, entoação, gestualidade e expressão. Como indica Bentes (2012, p. 08) que “quando escrevemos, podemos trazer a oralidade para dentro da escrita por meio de vários recursos: pontuação, manipulação das fontes das letras, apelo direto ao interlocutor por meio do trabalho com as pessoas do discurso, seleção lexical.” Em seguida,

O estilo constitui-se em uma relação dialógica, visto que é influenciado pelo discurso do outro, [...] ser determinado pelas unidades temáticas e composicionais, (CARETTA, 2008, p.19). E Segundo Bakhtin (2000, p. 283-285 apud Caretta, 2008, p.19) o estilo está [...] ligado [...] aos gêneros [...] do discurso. [...]; o estilo linguístico ou funcional nada mais é senão o estilo de um gênero peculiar a uma dada esfera da atividade e da comunicação humana. [...] O estilo é indissociavelmente vinculado a unidades temáticas determinadas e, [...] a unidades composicionais: tipo de estruturação e de conclusão de um todo, tipo de relação entre o locutor e os outros parceiros da comunicação verbal [...] O estilo entra como elemento na unidade de um gênero de um enunciado.

Os autores Dolz; Noverraz e Schneuwly (2004[2001] p.11) explicam essa sequência como “capitalizar as aquisições”, ou seja, “realizando os módulos, os alunos aprendem também a falar sobre o gênero abordado. Eles adquirem um vocabulário, uma linguagem técnica. [...] Eles constroem progressivamente conhecimentos sobre o gênero.” Nessa perspectiva, os autores propõem essas questões sequências:

Qual é o gênero que será abordado? [...] uma exposição a ser proposta para a turma [...], [...] leiam ou escutem um exemplo do gênero visado. A quem se dirige a produção? [...] Que forma assumirá a produção? Quem participará da produção? Todos os alunos; alguns alunos da turma; todos juntos; uns após os outros; individualmente ou em grupos. (DOLZ; NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004[2001] p.05).

            A sequência é finalizada com uma produção final revelando ao professor o nível de aprendizado dos alunos, “uma avaliação somativa” do processo de aprendizagem por módulos. (DOLZ; NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004[2001] p.12)
Em síntese, ensinar para o futuro é ensinar o aluno a adquirir a competência de reconhecer os diversos gêneros textuais: “[...] aprender a dominar o gênero para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo, para melhor saber compreendê-lo, para melhor produzi-lo na escola ou fora dela.” (BENTES, 2012, p. 02). Portanto, identificar a esfera comunicativa que delimitam os gêneros textuais e discursivos.




2 comentários:

  1. A palavra fala,
    a palavra diz,
    a palavra pensa em
    Leitura.
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  2. ELABORAÇÃO DO PROJETO ROSANGELA BARROS DE LIMA

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