Receitas Mágicas
O texto de Rojo (2004) inicia com uma
colocação bem original a de Ziraldo: “Ler é melhor que estudar.” Desenvolve-se
a perspectiva multicultural, motivo pelo qual o leitor deve ser o protagonista
da sua leitura. Portanto,
Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de distanciar-se dele, capaz de admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua própria criação, um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se. (FREIRE, 1996, p.17).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Marcuschi (2006, p. 03) define: Gênero
(textual, de texto, discursivo, do discurso) – Trata-se de textos orais ou
escritos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros
textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária com padrões sócio-comunicativos
característicos definidos por sua composição, objetivos enunciativos
e estilo concretamente realizado por forças históricas, sociais, institucionais
e tecnológicas. Os gêneros constituem uma listagem aberta, são entidades
empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações tais como: sermão, carta comercial, [...].
O trabalho com gêneros textuais no ensino de língua portuguesa
O ensino de língua portuguesa, século XXI,
tem como base o trabalho com gêneros textuais. Nesse tipo de ensino
salientam-se questões sobre leitura, reflexões sobre preconceito linguístico, a
criação poética e o próprio diálogo intertextual. O texto de Rojo (2004) inicia
com uma colocação bem original a de Ziraldo, que diz: “Ler é melhor que
estudar”, sobre a qual aparece o depoimento de Miúcha, irmã de Chico Buarque de
Holanda, afirmando que, o pai Sérgio, historiador de Raízes do Brasil, mantinha em casa um ambiente com muitos livros,
portanto já havia o contato dos filhos com os livros, além do que, o pai,
desafiava criativamente a curiosidade deles para a leitura de textos com
gêneros diversos. Bazerman (2006, p. 23) afirma que:
[...] os gêneros moldam os pensamentos
que formamos e as comunicações através das quais interagimos. Gêneros são os
lugares familiares para onde nos dirigimos para criar ações comunicativas
inteligíveis uns com os outros e são os modelos que utilizamos para explorar o
não familiar.
O
texto retoma a colocação de Ziraldo e interpreta-se que realmente a leitura e a
produção de gêneros textuais desenvolvem no cidadão a fluência comunicativa e o
potencial de observar a realidade com uma perspectiva multicultural. Observa-se
a importância do ato de ler na sociedade, sem leitura não há cidadania. Motivo
pelo qual o aluno deve ser o protagonista da sua leitura. Portanto,
Somente
um ser que é capaz de sair de seu contexto, de distanciar-se dele, capaz de
admirá-lo para, objetivando-o, transformá-lo e, transformando-o, saber-se
transformado pela sua própria criação, um ser que é e está sendo no tempo que é
o seu, um ser histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de
comprometer-se. (FREIRE, 1996, p.17).
Para
isso, precisa desenvolver as capacidades necessárias para se tornar um leitor
não somente perceptual, mas cognitivo. Ter a voz discursiva e capaz de
intertextualizar com outros gêneros.
Mas ser letrado e ler na vida e na
cidadania é muito mais que isso: é escapar da literalidade dos textos e
interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos e discursos, de
maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e
avaliando posições e ideologias que constituem seus sentidos; é, enfim, trazer
o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela. Mais que isso, as práticas
de leitura na vida são muito variadas e dependentes de contexto, cada um deles
exigindo certas capacidades leitoras e não outras. (ROJO, 2004, p. 02).
Rojo (2004) propõe uma leitura cidadã e
apresenta procedimentos para desenvolver a habilidade leitora não somente
perceptuais e práxicas, como também as cognitivas e linguístico-discursivas de
leitura: “[...] envolve conhecimento de mundo, conhecimento de práticas sociais
e conhecimentos linguísticos muito além dos fonemas”, (ROJO, 2004, p. 03). Da
compreensão à interação entre o leitor e o autor, elucida “esfera social de
comunicação”, (IDEM). A leitura não é somente um ato de reconhecer os símbolos
envolve procedimentos mais amplos e dinâmicos para compreender a palavra e o
discurso como especifica Rojo (2004, p. 07) nesse trecho:
[...] acercarmos da palavra não de
maneira autoritária, colada ao
discurso do autor, para repeti-lo “de cór”; mas de maneira internamente
persuasiva, isto é, podendo penetrar plasticamente, flexivelmente as palavras
do autor, mesclar-nos a elas, fazendo de suas palavras nossas palavras, para
adotá-las, contrariá-las, criticá-las, em permanente revisão e réplica.
A autora ressalta que a escola só ensinou o
básico no que tange à capacidade leitora – através de dados coletados e
analisados nos exames nacionais. E salienta que a prática de leitura requer
capacidades diversas de decodificação; de compreensão textual e de informação;
de interpretação e interação (contexto, finalidade, intertextualidade,
interdiscursividade, linguagem, apreciações estéticas e éticas). Como aponta
Schneuwly e Dolz (2004, p. 80 apud Braga
e Buzato, 2012, p. 02) que “[...] toda introdução de um gênero na escola é o
resultado de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem.”
Unindo-se a essa teoria, Marcuschi (2006, p. 19) discute que:
[...] os gêneros devem ser vistos na
relação com as práticas sociais, os aspectos cognitivos, os interesses, as
relações de poder, as tecnologias, as atividades discursivas e no interior da
cultura. Eles mudam, fundem-se, misturam-se para manter sua identidade
funcional com inovação organizacional.
E, completando com Bakhtin (2000, p. 302 e
279) sobre gêneros:
[...] gêneros são mais maleáveis, mais
plásticos e mais livres do que as formas da língua. [...] A diversidade dos
gêneros deve-se ao fato de variarem conforme as circunstâncias, a posição
social [...] as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a utilização da língua [...], mas cada esfera da
utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados
[...] que denominamos gêneros do discurso.
Explica Rojo (2005, p. 185), que a: “[...]
teoria dos gêneros do discurso – centra-se, sobretudo no estudo das situações
de produção dos enunciados ou textos em seus aspectos sócio-históricos [...] e
teoria dos gêneros de textos – na descrição da materialidade textual.” Uma relação
entre discurso e texto estabelece segundo Orlandi (1988 apud Zoppi-Fontana, 2012, p. 06): “uma identificação do sujeito que lê com um determinado gesto de
leitura” com produções singulares.
Todo
gesto de leitura já constitui um recorte e uma fixação dos processos de
interpretação realizados a partir de um texto e em condições de produção
específicas, sendo a escola um lugar privilegiado para sua estabilização e
legitimação. (ZOPPI-FONTANA, 2012, p. 06, grifo meu).
Há um encontro interpessoal, uma
impressão entre os sujeitos: o autor e o efeito-leitor estão conectados, um
diálogo entre autor e leitor.
[...] convenções dos gêneros têm uma natureza contextual (quem produz, para
quem produz, em que tipo de contexto/domínio social, com que função social),
uma natureza discursiva (o que pode ser dito e o que não pode ser dito e a
partir de qual lugar discursivo) e uma
natureza textual (forma composicional e estilo). (BENTES, 2012,
p. 02).
Propõe-se
o estabelecimento de metas para a produção de textos: o conteúdo temático, a construção
composicional e o estilo.
A sua construção composicional,
quanto o seu conteúdo
temático e seu estilo
variam consideravelmente através dos séculos. [...] Os gêneros são processos discursivos
dinâmicos que se sedimentam historicamente pela sua circulação na sociedade,
dadas determinadas condições de produção. (ZOPPI-FONTANA, 2012, p. 02).
Ao analisarmos a produção de texto, Marcuschi
(2010, p. 01) esclarece que “produzir um texto é uma atividade bastante
complexa e pressupõe um sujeito [...] atento às exigências [...] ao contexto
sócio-histórico cultural, seja um produtor que possa realizar diversas ações e
projeções de natureza textual, discursiva e cognitiva.” Verifica-se que:
O papel
da escola é dessa perspectiva, levar o aluno ao entendimento do que é a
linguagem, orientando-o a refletir produtivamente sobre a sua língua e
fornecendo-lhe instrumentos que os habilitem a empregar conscientemente os mais
variados recursos de expressão em diferentes níveis gramaticais (fonológico,
morfológico, sintático, morfossintático, morfolexical etc.). (AVELAR, 2012, p.
04).
Partindo
dessa teoria: “Construir nos alunos uma representação da atividade de escrita e
de fala em situações complexas, como produto de um trabalho, de uma lenta
elaboração”. (DOLZ et al, 2004[2001]
p.16). Os autores elaboraram um procedimento didático para ensinar os gêneros.
Com essa teoria o professor elabora uma sequência de ensino partindo desses
pressupostos: conteúdo temático, forma composicional e estilo.
O conteúdo temático estabelece o
domínio de sentido de um gênero, caracterizando-o como uma forma típica de
apreensão do real. Por determinar o nível de profundidade e os processos de
seleção na abordagem da realidade, o tema constitui a visão de mundo própria do
gênero. As esferas discursivas, por meio de suas coerções, determinam o
conteúdo temático de um gênero ao delimitar o seu campo de atuação na
sociedade. (CARETTA, 2008, p.19).
Seguindo
o pressuposto a “[...] forma composicional responde pela organização e pela
estruturação do gênero e funciona como uma forma que deve levar em conta os
modelos da esfera e as possibilidades de comunicação” (CARETTA, 2008, p.19).
Não deixando de analisar o quadro multissemiótico da oralidade: ritmo de fala,
entoação, gestualidade e expressão. Como indica Bentes (2012, p. 08) que “quando
escrevemos, podemos trazer a oralidade para dentro da escrita por meio de
vários recursos: pontuação, manipulação das fontes das letras, apelo direto ao
interlocutor por meio do trabalho com as pessoas do discurso, seleção lexical.”
Em seguida,
O estilo constitui-se em uma relação
dialógica, visto que é influenciado pelo discurso do outro, [...] ser
determinado pelas unidades temáticas e composicionais, (CARETTA, 2008, p.19). E
Segundo Bakhtin (2000, p. 283-285 apud Caretta,
2008, p.19) o estilo está [...] ligado [...] aos gêneros [...] do discurso.
[...]; o estilo linguístico ou funcional nada mais é senão o estilo de um
gênero peculiar a uma dada esfera da atividade e da comunicação humana. [...] O
estilo é indissociavelmente vinculado a unidades temáticas determinadas e,
[...] a unidades composicionais: tipo de estruturação e de conclusão de um
todo, tipo de relação entre o locutor e os outros parceiros da comunicação
verbal [...] O estilo entra como elemento na unidade de um gênero de um
enunciado.
Os autores Dolz; Noverraz e Schneuwly
(2004[2001] p.11) explicam essa sequência como “capitalizar as aquisições”, ou
seja, “realizando os módulos, os alunos aprendem também a falar sobre o gênero
abordado. Eles adquirem um vocabulário, uma linguagem técnica. [...] Eles constroem progressivamente
conhecimentos sobre o gênero.” Nessa perspectiva, os autores propõem essas
questões sequências:
Qual é o gênero que será abordado?
[...] uma exposição a ser proposta para a turma [...], [...] leiam ou escutem
um exemplo do gênero visado. A quem se dirige a produção? [...] Que forma
assumirá a produção? Quem participará da produção? Todos os alunos; alguns
alunos da turma; todos juntos; uns após os outros; individualmente ou em grupos.
(DOLZ; NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004[2001] p.05).
A
sequência é finalizada com uma produção final revelando ao professor o nível de
aprendizado dos alunos, “uma avaliação somativa” do processo de aprendizagem
por módulos. (DOLZ; NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004[2001] p.12)
Em síntese, ensinar para o futuro é ensinar o
aluno a adquirir a competência de reconhecer os diversos gêneros textuais: “[...] aprender a dominar o gênero para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo,
para melhor saber compreendê-lo, para melhor produzi-lo na escola ou fora
dela.” (BENTES, 2012,
p. 02). Portanto, identificar a esfera comunicativa
que delimitam os gêneros textuais e discursivos.
A palavra fala,
ResponderExcluira palavra diz,
a palavra pensa em
Leitura.
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ELABORAÇÃO DO PROJETO ROSANGELA BARROS DE LIMA
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